Hotel Central
Um dos mais antigos da cidade, o Hotel Central, situado na avenida Manoel Borba, na Boa Vista, e inaugurado no início dos anos 1930, recebeu hóspedes históricos já a partir do início de seu funcionamento. Os componentes da chamada “Caravana Liberal”, composta pelos políticos Getúlio Vargas e João Pessoa, entre outros, escolheram o estabelecimento na ocasião da viagem que fizeram a Pernambuco durante campanha para a eleição presidencial daquele ano (notícia do “A Província”, 28.01.1930). Nesse mesmo ano, quando o dirigível Conde de Zeppelin aterrissou no aeródromo do Jiquiá, na zona oeste, o governo do estado fez reservas no hotel, que recebeu o comandante Hugo Eckener e os demais oficiais da embarcação. Anos depois, quando outro dirigível alemão, o Graf Zeppelin, chegou ao Recife, alguns de seus passageiros foram buscar hospedagem no Central (“A Província”, 10.03.1933). Diversos artistas também estiveram ali: Grande Otelo, Badú, o casal Maria e Paul Biró, integrantes do Trio de Ouro (Nilo Chagas, Dalva de Oliveira), Ary Cordovil, Reina Aurora Lincheta Hidalgo e Miguel Cruz Herra, entre outros. Todos eles estão presentes nas fichas da DOPS/PE que conforma a base desta pesquisa.
No momento da inauguração, os anúncios de publicidade diziam que o hotel estava instalado no maior e mais elegante arranha-céus do norte do Brasil, prometendo luxo, conforto e distinção a seus hóspedes. O local pertenceu primeiramente à empresa G. Kyrillos & Cia, mas foi posteriormente vendido a Domingos Magalhães, também proprietário do Palace Hotel e do Hotel Alliança. Sobre o funcionamento do estabelecimento nos primeiros anos, os jornais informam fatos curiosos.
Em uma coluna publicada por Georges Kyrillos – um dos principais acionistas da sociedade anônima proprietária do hotel – no jornal “A Província” (17/01/1930), foi relatada a querela ocorrida entre ele e os demais acionistas. Mencionou seu empenho pessoal para integralizar o capital da sociedade a fim de que o estabelecimento pudesse ser inaugurado. Além disso, comentou sua atuação esmerada como diretor-gerente do estabelecimento, inclusive, “indo a bordo de todos os vapores, […] para trazer hospedes”.
O mal-estar aumentou depois do retorno de Kyrillos de uma viagem: ao chegar, recebeu a notícia de que a assembleia geral da sociedade havia aprovado a sua destituição do cargo, sob a acusação de irregularidades administrativas. Kyrillos defendia-se, argumentando que as contas de sua gestão haviam sido aprovadas pelo conselho fiscal da sociedade. Costumava dizer ao público e até aos hóspedes do hotel a injustiça da qual era vítima.
O prontuário funcional produzido pela DOPS/PE sobre o Hotel Central reúne documentos a partir dos anos 1940, vindos de fontes distintas. Ente elas, encontramos um ofício com data do dia 31 de maio de 1943, remetido pelo delegado Fabio Correa ao proprietário do hotel, Domingos Magalhães. Nele foi apresentado o investigador Luiz Sílvio Barreto, que prestaria serviços no hotel. Há ainda outro documento semelhante, que trata da apresentação do investigador Nilson Cordovil Corrêa. É importante mencionar que em ambos os casos a remuneração dos investigadores ficou a cargo do proprietário do hotel (o mesmo se repetia em outros estabelecimentos).
No prontuário, há também duas listagens com os nomes dos hóspedes do hotel e seus respectivos quartos, com data dos dias 21 e 22 de novembro de 1946. Além das fontes já citadas, outro documento que chama atenção no prontuário é uma carta assinada por um certo “auxiliar atento (BS) ”, dirigida ao delegado da DOPS/PE, Fabio Corrêa, sem data definida. Apesar de assinar a missiva com uma abreviatura, seu autor se identifica logo no primeiro parágrafo ao contar que trabalhando no serviço de escripta do Hotel Central, passou a desconfiar de um estrangeiro chamado Karl Sack, que atuava como intérprete no mesmo estabelecimento. Segundo BS, sua desconfiança estava baseada em três razões, entre elas sua nacionalidade, suas despesas são maiores que os rendimentos e a sua amisade com o dinamarquês que o procura para assuntos privados. Além disso, o autor pede instruções sobre como proceder sobre o assunto. A carta aponta para a prática da delação, incentivada durante toda a existência da/do DOPS como forma de obter informações sobre indivíduos considerados suspeitos.
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