Festa da Mocidade
Uma concentração política que terminou em celebração: a Festa da Mocidade, que surgiu na década de 1930, teve um papel importante nos costumes de um Recife de histórico caráter notívago. Em primeiro de setembro de 1934, o “Diario da Manhã” anunciava uma concentração política no Teatro de Santa Isabel em homenagem e apoio à candidatura de Carlos de Lima Cavalcanti ao governo de Pernambuco. Ali, já chamava o evento de uma festa da mocidade. Dois anos depois, o encontro tornaria-se um dos maiores eventos públicos de caráter não-cívico da capital.
Realizado de 1936 a 1968, habitualmente entre os meses de novembro e fevereiro, o encontro atraía milhares de pessoas para o Parque Treze de Maio, contando sempre com o apoio dos políticos e do comércio local. Nos primeiros anos, o grupo de universitários que promovia a festa tinha como propósito arrecadar fundos para a assistência a estudantes pobres e, especialmente, para conseguir terminar a construção do edifício que se erguia majestoso no Derbi, a Casa do Estudante.
Em dezembro de 1936, os jornais noticiavam, na primeira edição da festa, a instalação da autopista do mais moderno parque de diversões da América do Sul. O evento contou com apresentações do Bando Pernambucano, Grupo X e Cindo de Ouro e Jazz Band Academica, além de diversas atrações em teatro de variedades e de revista, lutas livres de box e greco-romana. Um concurso para aqueles que comparecessem à festa mais de dez vezes oferecia como prêmio um Ford V-8, um refrigerador Mascotte e um aparelho de rádio da General Eletric. O evento ainda contou com a presença de pastoris, mamulengos e com a participação da Federação Carnavalesca Pernambucana, através da exibição de seus clubs, blocos, troças e maracatus. Um programa da Radio Club de Pernambuco foi dedicado especialmente à festa.
Em setembro de 1937, já eram anunciadas as atrações da II Festa da Mocidade. Um comitê de arte foi formado para colaborar na edição do evento. Entre seus integrantes estavam Helio Feijó, Burle Marx, Hamilton Fernandes, Percy Lau, José Norberto, Aurora Lima, Moacyr de Oliveira, Lotte Schera, Eliezer Xavier, Carlos de Hollanda e Luiz Soares. A decoração do ambiente com motivos regionais foi assinada por Manoel Bandeira.
O grande destaque da nova edição da festa, segundo a imprensa local, foi o concurso da Rainha da Praia, em 12 etapas. O “Jornal Pequeno”, por outro lado, reclamava dos preços abusivos praticados no espaço (edição de 04.01.1938). Entre as atrações teatrais, estavam a Trupe de Jararaca; bailados acrobáticos, ilusionismo, canções regionais, e “artistas do sul e Buenos Ayres”, o Theatro Paulista e a Troupe Guanabara. Causaram expectativa as experiências científicas do Dr.Wandy e suas metamorfoses humanas, o tiro ao alvo e as adivinhações de Mme. Ziva, cartomante de renome internacional, além do parque de diversões, com atrações como a “Viagem à Lua” e o campeonato de luta livre.
Por conta da Festa, o carnaval de 1938 começou extra-oficialmente em 14 de janeiro, com a realização de um evento dedicado à imprensa no qual participaram diversas agremiações, como o Club Toureiros e o Bloco Flor da Lira, e concurso de passo de Maracatu com patrocínio da imprensa e da Federação Carnavalesca.
Segundo folder publicado pela Casa do Estudante de Pernambuco por ocasião da realização da XIII Festa da Mocidade no biênio 1949-50, o sucesso do primeiro certame foi retumbante e suas duas edições seguintes alcançaram ainda maior brilho e animação. No entanto, depois desse propagado sucesso, os diretores da entidade promotora da Festa decidiram entregar a organização e exploração do empreendimento nas mãos de terceiros, fazendo reverter para a instituição percentagens da renda bruta arrecadada nos portões do festival. Perdeu, assim, durante dez anos, a Festa da Mocidade, a sua característica de empreendimento estudantil, de iniciativa de moços universitários, transformando-se em negócio puramente comercial.
Poucas foram as mudanças ocorridas na programação após a retomada por parte da Casa do Estudante de Pernambuco da organização do evento: parque de diversões, artistas nacionais e estrangeiros, teatro de variedades, concurso de beleza e grupos da cultura popular animavam o público. Entre as atrações do certame realizado em 1949-50, chama atenção a divulgação da apresentação ao publico recifense de um autentico Xangô.
Os organizadores da Festa da Mocidade tinham inserção no ambiente político e costumavam promover tributos a figuras detentoras de poder político: o comitê foi inclusive recebido por diferentes governadores do Estado de Pernambuco. Essa proximidade com o poder, no entanto, não eximia o evento da vigilância da DOPS/PE. Depois de algumas edições, os jogos de azar realizados no ambiente eram visados e proibidos. Diversos artistas nacionais e, especialmente, estrangeiros contratados para abrilhantar o certame foram fichados pelos investigadores da delegacia. O extinto órgão policial também produziu um prontuário funcional (655–D) a respeito da Festa da Mocidade, que contém documentos compreendidos entre 1943 e 1962.
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