Bar Flutuante

Jornal Pequeno, 01.04.1952. BNDigital

Jornal Pequeno, 01.04.1952. BNDigital

De ambiente agradável, distinto e de bom gosto até antro sórdido, o bar O Flutuante fez história na cidade. Construído nos anos 1950 entre as pontes Maurício de Nassau e Buarque de Macedo, no centro do Recife, o local assemelhava-se a uma balsa. Até chegar ao salão, a clientela passava por uma passarela – tudo flutuando no rio Capibaribe. Segundo Maria do Carmo Andrade, bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o local possuía na parte superior um terraço, aos modos de um mirante, além de uma espécie de pista de dança.

A abertura do empreendimento do empresário João Moreira movimentou as colunas sociais da época: o “Diario de Pernambuco” de 31 de janeiro de 1951 noticiou o coquetel oferecido aos jornalistas na inauguração. Já o “Jornal Pequeno” da mesma data batizou o espaço de boite aquática, sublinhando que ali era possível almoçar, jantar ou tomar um simples aperitivo ao som de uma orquestra de boite das mais afinadas. Aliás, quando o escritor Aurélio Buarque de Holanda visitou o Recife, escolheu o local para almoçar.

Com o tempo, O Flutuante passou a ser noticiado não por seu glamour: as notas dos periódicos falavam de contravenções e brigas constantes. Em 1953, segundo o “Diário de Pernambuco” de 16 de janeiro, Geraldo Falcão Lacerda, acusado de estelionato por emitir cheques falsificados na cidade de Palmares, foi preso no bar. Em fevereiro de 1957, no mesmo jornal, uma notícia diz que Valdecir Luiz Barbosa feriu com estilhaços de vidro Flávia Pitta Reiber. Em outra confusão ocorrida nas dependências do bar no mesmo ano, o sargento reformado do exército José Ferreira Lima ameaçou com arma de fogo um grupo de estudantes que bebia no local. Após o tumulto inicial, uma guarnição policial chegou ao bar e efetuou a prisão em flagrante do agressor.

Essas e outras confusões ocorridas no Flutuante levaram ao fechamento do estabelecimento em 1959. De acordo com os jornais, a Delegacia de Vigilância e Costumes apresentou vários argumentos à Divisão de Planejamento Urbano a fim de que fosse revogada a licença inicial para seu funcionamento. Uma nota duríssima foi publicada pelo gabinete da Municipalidade do prefeito Pelópidas Silveira: dizia que o local deixara de ser apenas um bar e restaurante para constituir um antro sórdido onde se reuniam meretrizes e elementos depravados. Diante das pressões municipais, João Moreira decidiu fechar O Flutuante, mencionando que encerrava as atividades de sua boite em consequência de uma perseguição mesquinha e uma política cavilosa por parte das autoridades municipais.

 

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