Grande Hotel

DOPS_MCR_PARANOID

Prontuário Funcional 273-D. Fundo SSP-DOPS/PE. APEJE

 

No final dos anos 1930, o centro do Recife, especificamente o bairro de Santo Antônio, via o Grande Hotel abrir suas portas: era uma prova, dentro do conceito de modernidade brasileira que privilegia o novo em detrimento do velho, de que a cidade estava no caminho do desenvolvimento. A notícia publicada pelo “Diario da Manhã” de 21 de junho de 1938 é bastante ilustrativa: […] o Recife vinha, de há muito, se ressentindo da falta de um hotel com capacidade para hospedar todos os que vindos de portos distantes, tencionavam visitá-la, incluindo-a na sua lista de passeio e turismo.[…] Localizado num ponto central da cidade, entretanto, livre do barulho ensurdecedor do seu movimento, o Grande-Hotel está ricamente aparelhado. As suas instalações, custosas, modernas, obedecem a uma orientação segura, facilitando o máximo de conforto e higiene. Eram 132 quartos (64 de luxo), louças decoradas com o brasão de Pernambuco, quatro elevadores (dois para os hóspedes) e 129 auxiliares permanentes.

Pelos salões do Grande Hotel, circularam políticos, oficiais de exército de diversas nacionalidades, intelectuais, comerciantes e artistas de projeção nacional e internacional. Seus hóspedes, viajantes brasileiros e estrangeiros, estavam sob suspeita e vigilância da polícia local especialmente durante o período da Segunda Guerra Mundial. Em 1944, o chefe da portaria do Grande Hotel procurou as autoridades policiais para informar que encontrara, em uma lixeira, um papel com propaganda alemã, contendo impressa a cruz gamada, símbolo do nazismo com as legendas escritas em alemão que significam ‘Alemanha é a nossa salvação (entre na frente alemã)’. O achado levou à polícia a interrogar vários empregados do estabelecimento. Depois disso, entre 1945 e 1946, dois investigadores da DOPS/PE passaram a atuar permanentemente no local. Intensificou-se assim a campana.

No prontuário produzido pela DOPS/PE, uma história chama atenção: a ameaça sofrida pelo proprietário do hotel, Alfredo Bianchi, pela auto-denominada Sociedade Secreta do Touro Negro. Pediam uma alta quantia em dinheiro e alegavam combater o pauperismo que assola nossa população. Na carta anônima, informavam que a sede da sociedade ficava no Rio Grande do Sul e pediam que Bianchi entregasse a quantia pedida acondicionada em um pacote a ser colocado no segundo buraco de um muro da praça Chora Menino. O texto que acompanhava o pedido-ameaça era carregado de violência e teoria da conspiração: Convém notar que ninguém deve saber disso, sob pena de v.s. desaparecer do sol dos vivos nas 48 horas subsequentes, porque a nossa organização tem membros por toda a parte e o sr. não poderá escapar a nossa revanche e todos os bens que possuir serão destruídos implacavelmente, e se aceder como esperamos terá ao seu lado a mais poderosa defensor [sic] dos seus interesses para todos os fins, para conseguir tudo quanto o senhor desejar, bastando para tal escrever e por a carta no mesmo local onde depositamos o dinheiro. Temos membros em toda parte: nos hospitais, policia, exército, comércio e indústria, podemos fazer tudo em seu benefício, como podemos fazer toda sorte de mal, se puser espião ou se denunciar. Tenha cuidado. Bianchi procurou a polícia, que o acompanhou no momento da entrega do dinheiro. Os chantagistas foram presos.

 

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