Cine Siri

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Jornal Pequeno. BNDigital

 

Considerado um dos primeiros cineclubes do Recife, o Cine Siri (ou Museu Cinema, ou cineminha, segundo o livro Memória do Cineclubismo Pernambucano, de Fernando Spencer) tem suas primeiras atividades já relatadas nos documentos presentes no prontuário da DOPS/PE (a partir de 03.04.1944). Ali, sabemos que Pedro Salgado Filho, funcionário do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários, foi um dos elementos que, em 1924, iniciaram uma campanha heroica no sentido de dotar Pernambuco de uma cinematografia de enredo […] que logrou, em grande parte, um êxito dos maiores com a apresentação ao público de mais de quinze filmes. A tentativa, ao que parece, não teve muito fôlego: no documento, consta que,  fracassado aquele entusiasmo de vinte anos atrás, a cinematografia pernambucana ruiu por completo, não mais se sabendo qual o paradeiro das películas que tanto sucesso causaram nos cinemas. A referência é justamente ao Ciclo do Recife (1923-1931), quando o Estado passou a ser referência nacional em produção cinematográfica.

Ao saber que várias películas estavam sendo vendidas a peso em uma agência de filmes no Recife, o próprio Salgado Filho decidiu comprá-las e convidou outras pessoas para se unirem ao seu propósito cinematográfico: Jota Soares (auxiliar da firma comercial Albino Silva & Cia. Ltda); José Amaral (aluno do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Recife/ CPOR); Luís Vieira (chefe de publicidade do “Jornal do Commercio”); e Geraldo Melo (auxiliar da firma construtora Figueira & Jucá). Com eles, criou um cinema particular em sua própria residência, uma vez que as películas, fracas e antigas, não suportariam o peso dos projetores modernos. A resposta positiva ao projeto veio rapidamente graças, em parte, ao impulso da imprensa local, do Rotary Clube e do Teatro de Amadores. Figuras como Mário Melo, Valdemar de Oliveira, Mario Sette, Tolentino de Carvalho e Souza Barros tornaram-se frequentadores.

Segundo o ofício na DOPS/PE, tudo ali tem sido de verdadeira vibração, pois, todos se sentem embalados por uma saudade de tudo aquilo que veem nos filmes de enredo e naturais de Recife de vinte anos atrás. Foi Mário Melo, piadista, que batizou o cineminha de “Siri”, nome que logo se popularizou pelas rádios e jornais. Mais tarde, Pedro Neves, cinegrafista do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), diretamente subordinado às ordens do Presidente da República e um dos elementos que, em 1924, lutaram pela grandeza cinematográfica de Pernambuco, rebatizou o cineclube de “Museu Cinema”, nome que melhor expressão daria ao ambiente, principalmente porque outra coisa não era senão um museu de relíquias cinematográficas.

A existência do cinema foi logo notificada às autoridades. Felizmente para o grupo, o Serviço de Censura afirmou não haver nenhuma inconveniência no funcionamento do Museu Cinema, dada a finalidade a que o mesmo se destina e ainda pelo fato de não se tratar de estabelecimento público, destinado a explorar o comércio cinematográfico, com fins lucrativos. Mas havia um porém: precisavam informar, com 24h de antecedência, o dia e lugar da exibição das películas, além do programa do evento. Como se vê, o controle até podia parecer brando, mas era constante.

 

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