Krikor Tahra Kalfayan
Krikor Tahra Kalfayan, conhecido pelo grande público como Tahra Bey, nasceu entre 1902 e 1903, provavelmente, no Egito, embora se afirmasse turco.
Tahra Bey chegou ao Recife em 1933, vindo de uma turnê por São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Famoso por suas habilidades psíquicas de telepatia, ilusionismo e outros feitos mágicos, afirmava à polícia local a profissão de doutor. Foi registrado como tal pelos investigadores, mas também como fakir. De fama internacional, algumas fontes contemporâneas afirmam que Bey era, na verdade, natural de Tanta, grande cidade do Egito, nascido em 1897, com raízes armenas.
No Recife, suas atuações eram divulgadas com freqüência nos jornais entre 1933 e 1934, sendo chamado de médico egípcio, cujas habilidades acima citadas eram também mencionadas. Sob o título Um homem sobrenatural: os milagres do fakirismo, o “Diário da Tarde” alardeava que Tahra era capaz de ler os pensamentos dos leitores do jornal a partir da análise da letra dos correspondentes. Essa e outras notícias estão anexas ao prontuário individual 2695, aberto a respeito de Krikor antes da criação da DOPS/PE, mas incorporado e mantido nos arquivos da delegacia ao longo dos anos.
Outro recorte de jornal apensado ao prontuário – e identificado a lápis como sendo “O Brasil” de 1º de julho de 1933 – estampava a notícia “Tahra Bey às voltas com a polícia do Pará“, segundo a qual, um delegado de Belém instaurara vigoroso inquérito para apurar fatos delituosos no City Club envolvendo o mágico e autoridades locais. Em outra reportagem anexa ao prontuário, escrita pelo intelectual pernambucano Mário Melo para o “Jornal Pequeno” no dia 18 de maio daquele ano, Bey era acusado de forma incisiva por lucrar com a fé das plateias pernambucanas, visto que ao contrário de outros, não se propagandeava ilusionista, porém médico, e cobrava por consultas particulares. Outra matéria publicada pelo “Jornal Pequeno” de 16 de maio fazia comentários sobre apresentação de Tahra Bey na Encruzilhada. Para o repórter, o espetáculo de Bey havia sido chinfrim, fez as sortes mais tolas, e errou as adivinhações de pensamento. Também conta um causo em que Bey previu que um cidadão seria aprovado em concurso, previsão que provou-se mentirosa. Vale destacar, que nas notícias apensadas ao prontuário, as fotografias veiculadas pelos periódicos com imagem de Tahra Bey, nem sempre correspondem à mesma pessoa.
Tahra era diretor da “TAO – Revista Psychica para o estudo das sciencias occultas e psychicas do oriente”, com tiragem incerta, da qual consta um número em seu prontuário, com sua foto estampada na capa. Nela, aparece uma longa explicação dos conceitos usados pela revista, inclusive o nome TARA, nome hindu, que segundo a publicação referia-se aos mistérios da Lua, representados também pelos nomes Tao, Isis, Neith e Muth, originarios do Egito. A revista divulgava o fakirismo, caodismo, espiritismo, orações, eutanásia, plantas enteógenas, muitos deles assinados pelo próprio Tahra. Sua fama o transformou em personagem de paródias, como a realizada pelo ator Luiz Maranhão do grupo pernambucano Gente Nossa, além de ter virado tema de carnaval do conjunto carnavalesco “Pae de Tahra Bey” e a Troça Carnavalesca Mista “Tahra Bey na Folia” em 1934.
Segundo um depoimento de Tahra Bey ao estudioso do misticismo Paul Brunton, autor do livro “A search in secret Egypt”, sua família era de origem cristã-copta, sua mãe faleceu durante seu parto e desde os quatro meses de idade, foi treinado nas artes do faquirismo por seu pai. Devido à situação política no Egito, refugiou-se na Turquia, onde estudou medicina, e teve por pouco tempo um consultório na Grécia. Viajou para Bulgária, Sérvia e Itália, fez apresentações para o Reis Faud, do Egito, Carlos, dos Romenos, Vitor Emanuel, da Itália, e para o duce Mussolini. Fundou e dirigiu o Tahraïsme Institut – para o estudo e difusão dos fenômenos psíquicos, com sede em Constantinopla (atual Istambul) e filial em Paris. Era famoso por fazer-se enterrar ou ser mantido embaixo da água, por horas e até dias, mas também por ler pensamentos, hipnotizar, praticar telepatia e outros feitos.
Possivelmente, o Tahra Bey que esteve no Recife não é o mesmo que foi entrevistado pelo estudioso Paul Brunton e que conquistou fama mundial.
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