Teatro de Emergência Almare
De acordo com notícia publicada pelo “Jornal Pequeno” em 18 de agosto de 1949, o ambiente teatral do Recife estava resumido a alguns conjuntos amadoristas que procuravam fazer teatro serio, proporcionando ao público espetáculos com peças escolhidas do repertório estrangeiro. Mas o gênero leve foi esquecido e quem não apreciava o dramático não podia frequentar a única casa de espetáculos que era o Santa Isabel. Assim os amantes da comedia e da revista viram-se obrigados a abandonar a arte de representar por falta de conjuntos. Mas agora, com a próxima estreia do Teatro de Emergência Almare os admiradores da revista terão espetáculos dignos de aplausos.
O novo espaço foi inaugurado em outubro de 1949 com o espetáculo “Amor“, encenação de empolgante sátira de autoria do teatrólogo brasileiro Oduvaldo Vianna realizada pela Companhia Nacional de Comédias Barreto Junior, com a atriz Lenita Lopes como protagonista. Na ocasião, num programa distribuído aos ilustres convidados, o diretor da trupe explica: O Teatro Almare nasceu num dia de desespêro. Desespêro duma companhia teatral paralisada por falta de um local de exibição em Recife.
Na ânsia incontida de instalar uma casa de espetáculos, segundo um dos textos de apresentação do programa, a companhia aceitou ocupar de forma provisória, de outubro de 1949 a meados de 1950, uma área destinada à construção do primeiro trecho da futura avenida Dantas Barreto. Parte da estrutura criada no local para receber o povo num ambiente de absoluto conforto e por um preço accessível, na zona mais central da cidade mauricéia, seria, posteriormente, levada para um endereço definitivo, indicado pela Prefeitura do Recife. O curto período de existência do Almare em seu primeiro endereço foi marcado por uma programação intensa. Em 21 de novembro de 1949, um anúncio publicado no “Jornal Pequeno” divulgava a presença no teatro de Luz del Fuego, a interprete de Eva no Paraíso. A única bailarina que se apresenta com suas gigantescas cobras giboias. Outros nomes prestigiados que subiram ao palco do Almare para apresentar a revista de bolso “Onde há poeira o cisco está junto” foram Salomão Absalão e Mayerber Carvalho.
Entre o endereço provisório do Teatro de Emergência Almare e sua nova sede, que começava a ser construída no Parque Treze de Maio, a Companhia Nacional de Comédias Barreto Junior se instalou provisoriamente na rua Imperatriz, ocupando, então, o desativado e já lendário Cine Teatro Helvética. Para inaugurar a nova e esperada casa, cuja construção foi concluída em 02 de março de 1951, a companhia exibiu a comédia “O hóspede do quarto n°2“.
Na DOPS/PE, há um prontuário funcional dedicado ao Teatro de Emergência Almare. Nele, estão documentos como a cópia de um comunicado radiofônico remetido à delegacia, no qual foi transmitida a notícia de que a conferência contra o acordo militar Brasil-Estados Unidos ocorreu no espaço. O encontro contou com poucas pessoas, além de ter sido suspensa antes do fim. O documento data do dia 07 de fevereiro de 1953 e apresenta em anexo a relação das pessoas que compareceram naquela reunião, supostamente organizada pelos comunistas. Ao lado de cada nome, há a identificação do número do prontuário dos indivíduos. Também presente no prontuário identifica-se um recorte de uma reportagem do jornal “Folha da Manhã” com o título “Sem solução o ‘caso do Almare’”. A notícia afirma que as obras para reforma do Teatro Almare, inaugurado poucos anos antes no Parque 13 de Maio, continuam paralisadas em função da futura construção do Instituto de Educação, que ocupará o espaço. Não se sabe se realmente por motivos políticos ou não, mas a vida da sonhada casa teatral foi efêmera.
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