Grande Hotel

Grande_hotel_interna

Diário da Manhã, 24.06.1938_p.3. APEJE-CEPE

 

Administrado inicialmente pela firma de Alberto Quatrini Bianchi (também proprietário do Casino Atlântico do Rio de Janeiro, do Casino Guarujá em São Paulo e do Grande Hotel de Natal), o Grande Hotel, inaugurado em 1938, era também um local voltado para a diversão. Possuía um grill room e um cassino que permanecia aberto das 16h às 4h da madrugada. Os anúncios faziam questão de ressaltar que o ambiente era puramente familiar, possivelmente para diferenciá-lo de outros estabelecimentos similares da cidade, onde as brigas, segundo os jornais da época, eram constantes.

Na inauguração, cantaram figuras de projecção do broadcasting carioca, como Uyara de Goyaz e Francisco Alves, quatro jazz bands, entre elas a pernambucana Bando Acadêmico, e ainda duas orquestras do Casino Icarahy, do Rio de Janeiro. Duas mil pessoas eram esperadas. No grill room, no mesmo ano da inauguração, aconteceram shows de artistas celebrados, como a sambista Aracy de Almeida, Januário de Oliveira e Benedito Lacerda, além do embolador Manezinho Araújo, Judith de Almeida, Royalino (o “homem rã”), Crucet (O “Homem Orquestra”), a dupla cômica Rosita e Berti, as bailarinas alemãs do Ballet Sass, dirigido por Otto Sass, e o transformista Aymond. Boa parte dos artistas que se apresentaram ao longo do ano de 1938 no Grande Hotel foi fichada pela DOPS/PE.

Em 1939, os anúncios sobre programação do espaço subitamente desaparecem dos jornais. Uma notícia publicada no “Diario da Manhã” nos dá pistas sobre essa queda rápida: No ‘grill’ do Atlântico [cassino carioca], a orquestra tropicalíssima de Rimac é grande atração. São músicas ‘calientes’, cheias de feitiço com as scenas deslumbrantes da Conga, da Habanera e da Mexicana. No Recife, temos o ‘grill’ do Grande Hotel numa tristeza surpreendente. Culpa exclusiva do público que não prestigia as diversões. Prefere o isolamento social ou então o habito insociável de devastar a vida alheia (edição de 08.12.1939).

É só a partir do Réveillon de 1944-45 que o grill room volta a figurar nas páginas da imprensa local, que noticiava quatro grandiosos bailes de carnaval em 1945 e ainda apresentações de artistas ao longo do ano, incluindo a internacionalmente famosa Liberdad Lamarque, cantora conhecida no cinema argentino. A nota sobre ela no “Jornal Pequeno” é uma pérola: mulher estranha, de singulares e originais atrativos, de voz terna, ela é modesta e sedutora. […] é artista de classe, famosa nos quatro cantos do mundo. E não mostra essa suficiência sofisticada que tão artificiais torna as suas colegas de arte e popularidade. […] Sua vinda até nós representa, sem dúvida, um dos mais notáveis acontecimentos da vida social e artística da nossa capital, nos últimos anos (04.05.1945). Em 1946 ainda há registros de shows, mas no ano seguinte, eles desaparecem. Em 1947, o Grande Hotel foi arrendado por cinco anos pela companhia norte-americana Pan-American, que em 05 de julho do mesmo ano, sediou as comemorações do Independance Day para a comunidade norte-americana em Pernambuco. Hoje, o prédio do hotel, que abrigou hóspedes ilustres como Albert Camus, abriga o Forum Thomaz de Aquino.

Compartilhe: