O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos

Beatriz Janovite

Beatriz Janovite (ou Janovitch) ou Emilia Tayirivitch nasceu na Grécia em 1903.

Madame Beatriz era conhecida no Recife como poderosa vidente cartomante que atendia em seu Gabinete das Ciências Ocultas, à Rua do Hospício, 176, no bairro da Boa Vista. Ao chegar à capital pernambucana, causou grande curiosidade, por fazer-se anunciar nos jornais da cidade como a mais perfeita conhecedora das ciências ocultas com grandes estudos feitos nas principais capitais europeias, sentada em seu rico gabinete oriental, com verdadeiro luxo asiático e à disposição do culto povo pernambucano, conforme anúncio do “Diario da Manhã” publicado em 14 de dezembro de 1934. Suas habilidades conhecidas se estendiam desde a resolução de casos amorosos, casamentos, empregos até tirar o vício da bebida, conforme consta na edição de 27 de novembro desse mesmo ano no “Jornal Pequeno”. Nesse periódico, são veiculados os primeiros anúncios da chegada da cartomante ao Recife, nos quais afirmava não se tratar de catimbó, macumba, etc., informava suas áreas de atuação e o horário de atendimento normal, oferecendo também consultas particulares a chamados.

Por volta de 1935, a DOPS/PE abriu o prontuário individual 4205 dedicado a Beatriz Janovitch. Nas investigações policiais, questionava-se principalmente sua nacionalidade, bem como a de seu marido, Manoel ou Mivolrack Javanovitz. A cartomante informou ser grega, enquanto outros afirmavam ser ela sérvia. Um pouco antes dos depoimentos do prontuário, em reportagem publicada pelo “Jornal Pequeno” no dia 23 de maio de 1935, é mencionada uma denúncia anônima enviada à redação, segundo a qual a vidente teria ludibriado as autoridades policiais e o povo desta terra, sendo responsável também pela exploração de que é vítima a população desta cidade. Em defesa da cartomante, 20 indivíduos moradores da Rua do Hospício afirmaram ao “Diario da Manhã” de 26 de maio de 1935 que nada têm que censurar quanto ao modo de proceder de Mme.Beatriz.

Em seu prontuário, Mme. Beatriz afirmou à polícia pernambucana ser filha de pai iuguslavo e mãe grega, deixando a Grécia aos dois anos de idade, juntamente com eles, para residir na Iugoslávia, onde permaneceu até completar 22 anos, tendo se casado aos 18 com Manoel. Veio para o Brasil no ano de 1924, com passaporte do Reino da Iugoslávia, desembarcando no Rio de Janeiro, passando ali dois anos e depois viajando para diversos estados desde o sudeste até o norte do país e região amazônica. Estabeleceu-se no Recife em 1931, sempre exercendo sua profissão, mas afirmava que havia perdido seus documentos de entrada no país, sendo que seus documentos de identidade e idoneidade se encontravam com seu advogado, Carlos Rios. No documento, aparecem testemunhos de outras pessoas procedentes do leste europeu que viviam no Recife.

As confusões em torno de cartomantes continuavam, quando em uma matéria do “Diario de Pernambuco” de 17 de março de 1936, Manoel Aristides Mattos acusava certa Madame Savdelina – que se fizera anunciar no mesmo jornal com o título Notável Scientista – de ser uma embusteira. Cigana natural da Sérvia, sabia mais dançar do que ler o futuro, além de fazer suas consultas a mando de dois outros ciganos, João Luiz e Francisco Coxo, juntamente com mais 40 sujeitos do mesmo povo. Poucos dias depois, outra matéria em defesa de Mme.Savdelina afirmava que as acusações haviam sido escritas, na verdade, pela própria Mme Beatriz, a fim de desmoralizar aquela que seria sua rival. Seria Mme Beatriz a verdadeira vigarista, segundo constava de notícias do “Correio do Ceará”, onde teria aplicado golpes, e de um auto de perguntas – transcrito na nota – relizado por um delegado de Alagoas contra supostos embustes da cigana. No dia seguinte, Aristides Mattos afirmava ter sido vítima também da cigana Mme. Beatriz, não sendo o verdadeiro autor da matéria publicada anteriormente. Segundo o “Diario de Pernambuco”, ao procurar a cigana para tomar satisfações, soube que a mesma mudara-se para Penedo, em Alagoas.

Na década de 1950, novamente encontramos no “Diario de Pernambuco” anúncios da vidente em Recife. Desta vez priorizando a quiromancia como sua principal habilidade.