Sebastião Bernardes de Souza Prata
Sebastião Bernardes de Souza Prata, o popular Grande Otelo, nasceu no dia 18 de outubro de 1915 em Uberlândia, no chamado Triângulo Mineiro.
Grande Otelo foi registrado pela DOPS/PE no dia 14 de fevereiro de 1948, enquanto trabalhava no Circo Nerino. Em sua ficha, foi registrado de “cor” preta, estado civil solteiro e com nível de instrução secundário. Enquanto permaneceu na cidade, residiu no Hotel Central.
Grande Otelo destacou-se como um dos mais importantes artistas de sua geração. Ao longo da carreira de quase sete décadas, transitou por diversos espaços, tais como circos, teatro, cinema, rádio e televisão. Iniciou sua trajetória atuando como ator na Companhia Negra de Revista em meados dos anos 1920. Na música, foi autor e intérprete do samba “Praça Onze” (1941). Fruto de sua parceria com o artista Herivelto Martins, a letra trazia uma crítica à destruição da referida praça, que na cidade do Rio de Janeiro foi um tradicional ponto de concentração das festas carnavalescas.
Em reportagem publicada em 1947, intitulada As façanhas do artista colored!, a revista “Carioca” traz evidências de como o preconceito racial se manifestava na época:
[…] filho de uma família muito pobre. Tinha desejos de um dia tornar-se artista. Não duvidava de suas qualidades e não tardou em que conseguisse entrar para o cenário artístico. Hoje, passados muitos anos, obteve todo o cartaz de que um artista pode ser possuidor. Era de supor que a sua cor viesse trazer um certo complexo e isto prejudicaria de maneira positiva os seus planos futuros. Porém isso não aconteceu, muito pelo contrário. A sua cor escura fez com que se diferenciasse mais dos outros artistas cômicos e não há quem não conheça hoje por todo o Brasil, e mesmo fora dele, a arte do preto Grande Otelo. (grifo nosso)
O artista deve boa parte de sua popularidade às dezenas de atuações em importantes filmes nacionais da Atlântica Cinematográfica, ao lado de atores como Oscarito e Ankito. Entre os principais trabalhos do artista, destacam-se: “Noites cariocas” (1935); “It’s all true” (1942), dirigido por Orson Welles; “Rio Zona Norte” (1957), “Assalto ao trem pagador” (1962), “Crônicas da cidade amada” (1964), redigido por Millôr Fernandes. Mas, sem dúvida, “Macunaíma” (1969), filme de Joaquim Pedro de Andrade, baseado no livro de Mário de Andrade, foi um dos mais expressivos trabalhos de Grande Otelo no cinema, rendendo-lhe o prêmio de melhor ator do Festival de Brasília (1969).
Durante a passagem de Grande Otelo pelo Recife, foi ampla a divulgação de seus espetáculos como a principal atração do Circo Nerino. Os anúncios das apresentações comunicavam que a temporada teria início nos dias 04, 05 e 06 de fevereiro de 1948, com exibições exclusivas no circo. Os jornais ainda documentam que a última apresentação de Otelo no Nerino foi anunciada em 17 de fevereiro de 1948.
Todavia, obra publicada por Roger Avanzi e Verônica Tamaoki em 2004 sobre o Circo Nerino oferece informações mais detalhadas. O circo tinha o hábito de apresentar nomes de fama nacional em suas turnês e Otelo chegou à cidade quando o circo se encontrava armado na rua Imperial, no bairro de Afogados. Porém, houve um grande atraso na data anunciada para a estreia do artista, em decorrência de imprevistos ocorridos nos arredores do circo, que impossibilitaram a chegada do público nos dias marcados. Otelo estreou com a casa vazia, como ressaltaram os autores: por desgosto ou por gosto mesmo, encheu a cara. Demos-lhe bastante café amargo e o colocamos dentro de uma tina de água fria. Entrou em cena traçando as pernas, mas estreou.
Na sequência de apresentações de Otelo no Recife, o circo mudou-se para o bairro de Casa Amarela. Nesse período, Avanzi e Tamaoki ressaltam que Otelo foi convidado para se exibir no Cinema Jaboatão, na vizinha cidade de Jaboatão dos Guararapes. Durante a exibição, fez uma brincadeira com a primeira dama da cidade, que estava na plateia. O prefeito parece não ter interpretado bem o tom jocoso do ator: ordenou que o espetáculo fosse interrompido e que o artista fosse expulso da localidade.
Grande Otelo atuou até a década de 1990. Faleceu no dia 26 de novembro de 1993.
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