Circo Garcia

circo_garcia_detalhe

Jornal Pequeno. BNDigital

Um dos circos mais famosos do Brasil, o Garcia foi fundado na cidade de Campinas (SP) por Antolin Garcia, cuja experiência no picadeiro veio de seu trabalho, em 1920, como ator no circo de Benjamin de Oliveira. O Circo Garcia esteve dezenas de vezes em Pernambuco, principalmente na capital, entre os anos 1940 e 1950. Dividiu opiniões: jornais da época noticiavam tanto que a lona guarda a boa linha dos bons circos (“Diario de Pernambuco”, 12.06.1945), quanto trouxeram registros sobre maus tratos com animais. Há apenas uma menção ao Garcia na DOPS pernambucana. Na portaria n° 161 de 15 de março de 1944, lemos sobre a concessão de uma licença de funcionamento no Recife. O documento recomenda ao responsável pelo circo que as instruções da Delegacia de Vigilância Geral e Costumes, Ordem Política e Social sejam cumpridas, mas não especifica quais. Com a constante presença da trupe na cidade, percebe-se, no entanto, que não aconteceram maiores conflitos entre o Garcia e o governo de então. Na verdade, em 1944, quando aparecem as primeiras notícias do circo nos jornais (falava-se da estreia no Largo de Santo Amaro após a trupe retornar de Caruaru), somos informados de que alguns espetáculos tiveram renda doada para a Liga Social Contra o Mocambo (“Diario da Manhã”, 13.06.1944). Liderada por Agamenon Magalhães, nomeado interventor de Pernambuco por Getúlio Vargas, a Liga foi responsável pela destruição no Recife de vários mocambos a partir de 1937, um projeto urbanístico de altíssimo cunho higienizador e preconceituoso.

Nesse mesmo ano, circulou uma nota nos jornais denunciando uma má postura do circo, que teria permitido a auxiliares subalternos da empresa esfolarem vivo um cavalo, dado em seguida como alimento para os animais do circo, evento ocorrido nas proximidades do bairro do Barro (“Diario de Pernambuco”, 23.12.1944). A publicação ainda comentava o boato de que os diretores da empresa pagavam boas quantias por cães e gatos destinados à alimentação dos bichos. Os maus tratos ainda eram observados nos espetáculos, como mostra a nota: os espectadores sentem a tristeza do urso que não nasceu para ser equilibrista e a falsidade daquela violência do leão ensinado, diz notícia do “Diario de Pernambuco” (edição de 12.06.1945). Além de Santo Amaro, bairros como Afogados, São José e Casa Amarela, além dos jardins do Parque Treze de Maio, também receberam os artistas do Garcia, cujos shows também combinavam apresentações e peças teatrais. Depois de números como os da trupe Azevedo (acrobacia e trapézio), viu-se aqui, em 24/8/1945, a peça “Cezar de Basan”. Um dos destaques do Garcia na cidade foi o espetáculo que homenageava Gilberto Freyre. A peça atraiu a elite local para a lona, incluindo o próprio Freyre, que ao entrar no circo, foi saudado de pé pela plateia tendo o conjunto musical executado uma marcha antiga (“Diario de Pernambuco”, 12.06.1945). Um casamento especial marcou a história do Garcia – e do Nerino, quando Anita Garcia casou-se com Roger Avanzi, que trabalhava na última lona. A cerimônia ocorreu no Recife, na Igreja do Bom Jesus do Arraial, em um evento em que o templo ficou superlotado, e muita gente teve que aguardar do lado de fora a saída dos noivos (“Diario de Pernambuco”, 01/04/1948). O casamento decepcionou as muitas fãs do galã Avanzi. No ano 2000, depois de ter circulado por todo o Brasil e pela América do Sul, a lona do Garcia foi recolhida.

 

Compartilhe: