Radio Club de Pernambuco (P.R.A.8)

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Prontuário Funcional 482 – D. Fundo SSP-DOPS/PE. APEJE.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma rádio criada em Olinda por iniciativa de cavalheiros que ali veraneavam, a Club já aparece registrada nos jornais locais em 1914: a edição de 18 de novembro do “Diario de Pernambuco” daquele ano mostra uma reunião promovida no Bar Olinda, na qual estava o grupo seminal da rádio. A emissora esteve intimamente envolvida com a gênese do uso e da propagação das ondas radiofônicas no Brasil. Ao que tudo indica, o empreendimento começou a ser gestado em meados da década de 1910 e formalmente oficializado nos anos 1920.

A primeira transmissão nacional aconteceu em 1932. Em meados daquela década, a rádio utilizou de maneira pouco ortodoxa seu poder de comunicação: noticiou o boato de que o Ministério da Guerra havia deslocado tropas militares para a capital pernambucana, a fim de promover um ataque aos remanescentes da Intentona Comunista que resistiam no Rio Grande do Norte. Era uma estratégia para corroborar com o desanimo daqueles que ainda lutavam. Houve ainda, durante a Segunda Guerra Mundial, uma transmissão simultânea para os Estados Unidos: tratava-se de uma entrevista com os náufragos de um navio mercante norte-americano supostamente alvo de um submarino alemão em águas do Nordeste brasileiro. Em 1946, a Club tinha uma folha de pagamento como cerca de 175 funcionários, composta por músicos, locutores, técnicos, cantores, radioatores, diretores e gerentes. Por seus corredores, passavam artistas nacionais de destaque, como Ataulfo Alves, Luiz Gonzaga, Orlando Silva, Aracy de Almeida, Nelson Ferreira e Clóvis Paiva. Entre as atrações internacionais, estiveram José e Maria Iturbi, a cantora alemã Erma Zack e Bing Crosby, além do cantor e ator Errol Flynn. O nome do galã do filme O Gavião do Mar (1935) é um dos mais conhecidos entre os de tantos que aparecem registrados nos prontuários da DOPS/PE. Também estão lá Anita Palmero, Mario René Crucét, Manuel José do Espírito Santo, Petrônio Rosa Santana (Colé Santana), Manoel Araújo (Manezinho Araújo), Murilo Alvarenga e Nicanor de Paula Ribeiro Filho (Ary Cordovil). Todos se apresentaram na Club.

É importante destacar que consta no arquivo da DOPS/PE um prontuário funcional composto de documentos referentes à Radio Club de Pernambuco, principalmente da década de 1940. O documento mais antigo localizado no prontuário data do dia 06 de setembro de 1941, provavelmente uma correspondência enviada ao delegado da DOPS/PE. O seu teor refere-se às instruções do diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) sobre o funcionamento de alto-falantes. O diretor secretário da Club informa à DOPS/PE que no Recife, funcionam alto-falantes na Casa Santa Teresinha, no Jóquei Club do Recife e no Circo Nerino, revelando ainda que o circo possuía uma estação transmissora que funcionava em desrespeito à legislação vigente. Na circular emitida pelo delegado da DOPS/PE em 10 de agosto de 1942, destinada aos diretores dos principais órgãos da imprensa pernambucana, entre eles a Club, foi informada a recomendação do DIP para que não fossem feitos comentários, notas e notícias contendo dados estatísticos em geral sobre a produção, fornecimento, transporte por estrada de ferro, exportação e importação.

Na documentação referente à rádio, foi localizado uma espécie de roteiro de uma radionovela intitulada “Salve América”. A temática envolvia um suposto ataque das nações do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) ao Brasil. O documento manuscrito não possui data ou autoria, todavia, deve ter sido escrito durante a ocorrência da Segunda Guerra Mundial. Não foram encontradas notícias sobre essa radionovela na programação da rádio veiculada nos jornais, o que pode indicar que o texto tenha sido censurado. Ainda no prontuário da rádio, encontra-se um ofício do dia 06 de agosto de 1946, no qual o delegado da DOPS/PE comunica ao secretário de Segurança Pública a proposta feita pela Radio Club, a fim de obter a nomeação de Caetano Rodrigues de Almeida para a função de investigador de polícia junto à emissora, cujos vencimentos seriam por ela custeados, como de praxe. Ao que tudo indica, esse investigador trabalhou na rádio até 1951. Em 2014, a Club teve seu nome modificado para Rádio Globo Recife, em virtude de uma parceria entre os Diários Associados e o Sistema Globo de Rádio.

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