Companhia Cinematográfica Meridional

foto_milicos_cinema

Prontuário Funcional 650 – D. Fundo SSP-DOPS/PE. APEJE

 

A Companhia Cinematográfica Meridional – ou Meridional Films – foi prontuariada no final de 1943 pela DOPS/PE. Entre os documentos a respeito da empresa, um ofício do delegado da DOPS/PE comunica ao chefe de polícia do Rio Grande do Norte que A.W.A.M., um dos membros da diretoria da Meridional, foi detido a pedido do interventor federal no Estado. As razões da detenção não foram registradas neste prontuário, mas é possível que a investigação sobre a empresa tenha sido motivada por um rumoroso caso policial envolvendo seu diretor – prontuariado individualmente – e uma menor de idade.

A Meridional atuou na produção de filmes institucionais para órgãos públicos e shorts (pequenas filmagens) de eventos cívicos ou particulares. Em 1939, um ano de intensa produção da companhia, alguns desses shorts foram exibidos na festa do Carmo da Paraíba – com a presença simbólica e repressora do interventor local. A edição do “Diario de Pernambuco” de 20 de agosto 1939 mostra que a empresa patrocinou a transmissão de um jogo do Sport Club pela Radio Club de Pernambuco. Em setembro, a Companhia Meridional produziu o documentário “Mocambo, exibido no Teatro do Parque e no Cine Teatro Encruzilhada. O trabalho foi descrito no “Diario de Pernambuco” como “o film da actualidade que deve ser assistido por todos, sem distinção de credo e de classe” (23.09.1939 e 28.09.1939). Um mês depois, filmou-se o III Congresso Eucarístico, cuja exibição aconteceu nos cinemas locais. A companhia esteve também perto do poder institucional, participando de várias cerimônias oficiais, como o ato em celebração do retorno do interventor Agamenon Magalhães e o lançamento da pedra fundamental do edifício da Sulacap. Filmou, igualmente, a visita de Getúlio Vargas ao Recife, com a produção de um short em duas partes, “40 Horas de Vibração Cívica (exibido no Art-Palacio em 08 de janeiro de 1942) e um “Te Deum” (hino presente na liturgia católica, rezado ali para o `reestabelecimento` do presidente). A cultura popular também surge nas produções da casa: em 1941, o frevo pernambucano foi motivo de um documentário. Em 1944, foi a vez de uma película sobre a Usina Central Barreiros.

Um nome se destaca nessa cinematografia da Meridional: o do cineasta Manoel Firmo da Cunha Neto, ou Firmo Neto, que foi diretor, cinegrafista e fotógrafo, além de fazer experiências de sonorização de filmes, produzindo o primeiro longa a utilizar a tecnologia no local, “Coelho sai”, de 1942, cuja única cópia foi infelizmente perdida em um incêndio. Há notícias, também, em 1958, da experiência de microcinematografia realizada por Luiz Tavares em parceria com a Meridional – já extinta na época da notícia – para o estudo da esquistossomose, resultando em um longa-metragem com montagem de Firmo Neto. A produção foi refilmada posteriormente sob encomenda do Ministério da Saúde.

 

Compartilhe: