Circo Star-Light

circo_star_light

Jornal Pequeno, 02.08.1944. BNDigital

 

Com atrações como Chamego, o palhaço ímpar dos picadeiros; Rayilda, bailarina e sapateadora excêntrica; e Pacote, o homem minúsculo (75 cm de altura), o circo canadense Star-Light entrou para a história da cidade tanto por seus números e espetáculos teatrais quanto por uma tragédia que infelizmente causou a decadência da lona em terras locais. O circo foi armado na capital pela primeira vez em 1943, no Largo de Santo Amaro, tradicional ponto de acolhimento das tendas mambembes. Na estreia, bombons foram distribuídos durante as matinês, como consta no jornal “Diario de Pernambuco”, edição de 05 de dezembro de 1943. Um ano depois, a família Haymanon, formada por artistas canadenses, dirigiu-se aos bairros de Água Fria e São José para mostrar seus espetáculos, que também continham muitos elementos brasileiros, como sambas, cançonetas, caipiradas e humorismo (“Diario de Pernambuco”, 02/08/1944). Passaram ainda, em 1945, pelo bairro da Encruzilhada.

O Star-Light foi criado pelo artista Pet Evans Haywanon. Ele, assim como suas filhas Rayilda e Margrett Haywanon, tiveram seus dados pessoais registrados pela DOPS/PE. Assim como outras lonas populares de então, o circo também dedicava parte dos espetáculos ao teatro. Em 1946, quando estava montado na Praça do Bom Sucesso, em Olinda, exibiu ao público as peças “Compra-se um marido”, “Os milagres de Santa Teresinha”, “A ladra”, “As rosas de Nossa Senhora” e o drama “Os transviados”. Foi o último ano de bonança para a família Haywanon em Pernambuco. Em 1947, o período do carnaval foi especial: o clube carnavalesco Vassourinhas realizou um espetáculo nas dependências do circo, ainda armado na praça de Bom Sucesso. Em março, a lona mudou-se para Paulista. Ali, no dia 11, o operário Manoel Nascimento Ferreira, da Fábrica de Tecidos Paulista, esfaqueou Anita Dimetro Haywanon e seu filho, matando a esposa de Pet Evans. Segundo a edição do dia 12 do “Jornal Pequeno”, o fato ocorreu durante uma discussão: Manoel tentou entrar no circo com um ingresso vencido. Segundo o periódico, o operário insistiu no seu propósito de entrar com o ingresso, o que motivou séria discussão entre os dois, em seguida, o operário sacou da cinta uma peixeira, vibrando um profundo golpe no pescoço da indefesa mulher que teve morte imediata.O operário foi preso em flagrante.

Depois desse momento trágico, o Circo Star-Light deslocou-se para o Recife em 1948, realizando apresentações no bairro do Beberibe (“Diario de Pernambuco”, 15/02/1948). Nesse ano, o “Jornal Pequeno” publicou uma reportagem intitulada “A tragédia acompanha a vida do circo: o Star Light lembra um navio negreiro”. Nela, foram abordados assuntos relativos às dificuldades financeiras pelas quais passava o circo, além de precariedade das condições que acompanhavam as trajetórias dos artistas, lembrando ainda do crime praticado contra a esposa do proprietário do circo, que foi entrevistado e fotografado naquela ocasião. Poucos dias antes da entrevista, Pet soube que o assassino de sua esposa seria julgado por um corpo de jurados do qual fazia parte dois parentes do réu. Desesperado, tentou incendiar a lona, mas foi impedido pelos artistas. Segundo o “Jornal Pequeno”, eles, movidos pela necessidade de sobrevivência, estão reorganizando o circo, construindo novos mastros, armando um pano novo que substituirá a cobertura de trapos sujos que a morte danificou (edição de 26.10.1948). O proprietário do Star-Light afirmou na entrevista que só voltaria ao Canadá depois que a Justiça brasileira se pronunciasse sobre o assassinato de sua esposa. Dois anos depois, Manoel Nascimento Ferreira, que foi condenado a cinco anos de detenção pela morte de Anita Haywanon, saiu da prisão, em liberdade condicional.

Compartilhe: