Cinema São Luiz

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Jornal Pequeno. BNDigital

 

Seis de setembro de 1952: com o filme colorido “O falcão dos mares”, trazendo Gregory Peck e Virginia Mayo, o Cinema São Luiz iniciava suas históricas exibições no Recife. Suas poltronas de madeira revestidas de estofado vermelho abrigavam até 1.340 pessoas, uma enormidade de gente até os dias de hoje. Quase dois anos antes, ainda na fase das obras, o “Diario da Manhã” de 24 de maio de 1950 já anunciava (não sem uma alfinetada): Vai a capital pernambucana ganhar uma casa de exibições cinematográficas digna de figurar em qualquer grande cidade do mundo, com destaque. Até que enfim o sr. Luiz Severiano Ribeiro, esse magnata do cinema em nossa terra, sempre olhando para certa classe com maus olhos, resolveu dotar a Cidade Maurícia de um cinema elegante na acepção do termo. Abrigado no edifício Duarte Coelho, que levou o mesmo nome da ponte símbolo das transformações urbanas realizadas na capital naquela década, o São Luiz também fazia parte do projeto de nossa decantada modernização.

Em artigo publicado pelo “Diario de Pernambuco” em 19 de setembro de 1952, João Domingo, autor do texto, conta que sobre o cinema, ouvira, como numa formidável demonstração de aplausos, palavras de encantamento de muita gente e, poucos dias depois, ao visitar a nova casa, verificou que, o som é magnífico, a nitidez da projeção é impressionante, o ambiente é o que se permiti de desejar de agradável e o conforto nas poltronas é quantum satis. Sôbre o estilo da decoração, sobre os pormenores arquitetônicos, falem os entendidos se quiserem.

Em tempos de extrema vigilância, no entanto, nem mesmo um lugar tão cortejado escapava do faro dos órgãos de repressão: pouco depois de sua abertura, o Cinema São Luiz ganhou um prontuário funcional (1069- D) na polícia local: um ofício expedido pela Delegacia Auxiliar no dia 23 de setembro de 1952 solicitava ao delegado de Vigilância Geral e Costumes reforço para o policiamento interno da sala de exibição durante a exibição do filme “A raposa do deserto”, de Henry Hathaway (1951). Tratava-se de uma observação especial, afim de evitar possíveis demonstrações por parte de elementos vermelhos. Em meio à polarização da Guerra Fria, o filme sobre a vida do marechal de campo alemão Erwin Rommel durante a Segunda Grande Guerra havia gerado quatro dias seguidos de manifestações em Viena por parte de militantes comunistas. Os protestos deixaram 29 policiais gravemente feridos. O “Jornal do Commercio” de 21 de setembro anunciou que a exibição na Áustria foi cancelada por conta dos distúrbios.

Depois de 55 anos de funcionamento, o Cinema São Luiz fechou suas portas. Em 2008, após escandalosas notícias sobre seu destino, que deflagraram o início de um movimento de pressão por parte de diversos segmentos da sociedade local, especialmente, daqueles ligados à cultura, o São Luiz foi tombado como monumento histórico pelo Governo do Estado. Revitalizado, o espaço voltou a ter suas portas abertas para o público local.

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