Juliette Michel Rabay

Juliette Rabay (ou Juliete Michel Rabay ou ainda Juliett Rabai) nasceu no Líbano entre 1920 e 1921. Era naturalizada brasileira, fixando residência no Recife a partir de 1942.

Pintora, Juliette foi investigada pela DOPS/PE no ano de 1943 após o registro de telegrama do chefe do Serviço de Registro de Estrangeiros (SRE) da Bahia em fevereiro daquele ano, no qual se afirmava ser pessoa que requer vigilância cuidadosa e contínua, especialmente em suas relações com outros estrangeiros. Nesse mesmo telegrama, logo a seguir, são solicitadas informações sobre Bernard Picit, porém, sem mencionar qualquer vínculo entre ambos. As informações reunidas pela DOPS/PE a respeito de Juliette compõem o prontuário individual 8510.

No jornal “Diario da Manhã” de 1936, encontra-se uma nota da missa de 7º dia de Aziz Rabay, falecido no Líbano, que seria celebrada na Igreja do Carmo do Recife. Nesse obituário, figura o nome de Juliette (ou de alguma parente com o mesmo nome) entre os parentes do falecido, indicando fortes laços familiares na capital pernambucana, onde os Rabay mantinham uma casa comercial à Rua do Rangel, 157, no bairro de São José. Além de Juliette, o obituário de Aziz Rabay também menciona outras famílias a ele vinculadas, dentre as quais a família Rostan, provavelmente, a mesma de Elyel Rostan, secretário de Bernard Picit.

Independente de haver ligações com Bernard ou Elyel, Juliette foi vigiada pela DOPS/PE entre os dias 11 e 16 de março de 1943. Investigadores seguiram e relataram sua rotina na rua Malaquias, no bairro de Aflitos, onde residia, e também por outros espaços da cidade. Os relatos das campanas realizadas nesse período informam que Juliette recebeu visitas de uma cigana, de um padre, seu irmão e de outras figuras locais; que visitou a Festa da Mocidade, a Confeitaria Helvética, além de ir à Sorveteria A Botijinha, ao teatro e ao Clube Náutico Capibaribe, nas imediações de sua residência. Em uma de suas idas ao centro da cidade, visitou diversos estabelecimentos comerciais, dentre os quais, a Floricultura Pernambucana, onde teria se ligado ao alemão Hans Gunther. Talvez fosse esse o motivo de recaírem suspeitas da DOPS/PE sobre sua rede de relações sociais.

Pela imprensa pernambucana, é possível saber mais detalhes da vida da pintora e de seu trabalho. No dia 25 de maio de 1942, o “Diario da Manhã” anunciava no Recife a chegada de Juliette – nome consagrado pelas críticas europeia e sul-americana – para uma exposição de pinturas no Grande Hotel, que ocorreu no início de junho daquele ano. Segundo o periódico, Juliette já havia passado rapidamente por Recife, regressando da Europa, onde fez exposições em diversas capitais, além de ter sido agraciada, em seu país, com o prêmio do “Salão de Marad”, na cidade de Beirute. Era filiada à Escola Bizantina, sendo, portanto, sua especialidade nus, perspectivas, quadros anatômicos, paisagens e marinhas. No Brasil, fez exposições em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, onde vendera quadros para a coleção particular do interventor e para o Museu da Bahia. Fazia quadros para instituições, como a Companhia Nacional de Aviação. No Recife, declarou sua intenção de participar da Campanha contra os Mocambos, promovida pelo interventor Agamenon Magalhães.

Depois da exposição no Grande Hotel, Juliette elegeu um novo local para exibir suas pinturas: a Casa Primavera, localizada nas cercanias do Mercado de São José, no centro da cidade, cuja edificação existe até hoje. Em artigo contra críticas que ela teria recebido pela iniciativa, vem em sua defesa Renato Campelo, que em pequeno artigo publicado no “Diario de Pernambuco”, destaca a importância do gesto de Juliette:

A casa comercial em que está a exposição de retratos e paisagens da ilustre pintora é uma das mais importantes desta capital, onde pobres e ricos são tratados exclusivamente como consumidores. Escolhendo a pintora um local onde o público em geral pudesse apreciar os seus trabalhos, ela pensou com o coração lembrando-se também dos humildes que embora sem recursos para adquiri-los de muito lhe servirão a sua crítica sincera. Pois nem só os que vivem no conforto são os mais possuidores da compreensão do belo. Dizer mal e destruir é muito fácil. Mas criar e aperfeiçoar não é dado a muita gente.

 

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