Julien Mandel Mandelbaum

Julien Mandel Mandelbaum, conhecido como Julien Mandel, nasceu em local desconhecido, provavelmente, entre 1892 e 1893.

Era fotógrafo e cinegrafista e chegou ao Brasil em 27 de novembro de 1935. Procedente do Porto de Havre (França), desembarcou no Recife, declarando ser francês. No mesmo dia, seguiu para o Rio de Janeiro e, quando retornou à capital pernambucana para fixar residência, declarou-se “cinematografista”. Abriu um atelier de fotografia no segundo andar do número 88 da Rua da Imperatriz, situada no bairro da Boa Vista.

Em 1941, provavelmente, em razão de uma série acusações feitas pelo jornalista Aníbal Fernandes contra Mandel, a DOPS/PE abriu o prontuário individual 7518 a respeito do fotógrafo. Segundo as informações da polícia, Mandel alternava a ocupação de fotógrafo com a de cinematografista, nesta última colhendo aspectos das usinas de açúcar do Estado.

Acusado por Fernandes de cometer uma série de falcatruas em Pernambuco, o jornalista comparava-o a um scroc ou gangster, que envolvia pessoas da alta sociedade, como o industrial José Pessoa de Queiroz, da Usina Santa Teresinha, que pagara uma elevada quantia para Mandel realizar um filme, nunca feito. Acusava-o também de não ser francês, porém polonês ou russo, e dizia que segundo informações do cônsul da França no Recife, no passaporte de Mandel constava ser a expressão heimatlos, ou seja, apátrida. A polícia acreditava que Mandel seria russo naturalizado francês ao mesmo tempo em que afirmava ser ele judeu que residira muitos anos em Paris, no Quartier Latin.

No Recife, Mandel realizou exposições noticiadas pelos jornais locais, que ressaltavam sua fama, como elemento de destacado relevo nos circuitos artísticos estrangeiros. O “Diario da Manhã”, publicado no dia 19 de dezembro de 1937, afirmava que o fotógrafo encontrava-se na cidade para fazer algumas fotografias de figuras da sociedade pernambucana e que depois figurarão numa exposição que realizará em Paris. O mesmo jornal, em 25 de dezembro de 1937 exibe foto de Mandel e realiza uma crítica da mostra de fotografias realizada em seu atelier, a qual atraíra grande e selecionado público recifense, que também aproveitava a opportunidade única – a de posar para a objectiva de Mandel, uma objectiva fidalga, requintada, acostumada a encarar de frente monarchas, rainhas, aristocratas, artistas e escritores eminentes, o ‘grand monde’ de vários países europeus.

Apesar de sua intensa atuação profissional e aparente inserção na sociedade pernambucana, entre 22 de abril e 31 de maio de 1938, Mandel viu-se envolvido em uma polêmica com o jornalista Mario Melo, que vinha a ser encarregado pelo governo federal, desde muito antes de 1937, da fiscalização de atividades artísticas e científicas de estrangeiros em Pernambuco.

Ocorre que Mario Melo escreveu um artigo em sua coluna “Ontem, Hoje e Amanhã”, publicada no “Jornal Pequeno”, no qual comentava a forma com que os locais recebiam sem questionamentos quaisquer estrangeiros que chegassem ao Recife, discorrendo entre outros casos o do famoso espertalhão Tahra Bey. O nome de Mandel não foi citado em nenhum momento na nota redigida por Mario Melo, mas suscitou uma resposta do fotógrafo, que o intelectual pernambucano considerou um sinal de ter lhe servido a carapuça.

Em carta, publicada pelo “Diario de Pernambuco” em 23 de abril de 1938, Mandel afirmou que foi miseravelmente caluniado de forma indireta e que dava satisfações apenas em consideração à sociedade pernambucana. Provocava Melo a denunciá-lo à polícia local, visto que “Pernambuco não é um pedaço do deserto africano. Aqui existe polícia, Existe Justiça”. Em outra edição, sabe-se que Mandel levou repórteres para conhecer o laboratório onde trabalhava no filme documentário sobre a Usina Santa Teresinha. No entanto, os desdobramentos da polêmica com Mário Melo, aparentemente, reverberaram em 1941, quando da denúncia de Aníbal Fernandes e da abertura de um prontuário a respeito de Mandel na DOPS/PE.

 

 

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