Carmen Silvia Brown Munefelt

Carmen Sylvia Brown Muñefelt nasceu em Kongsvinger, Noruega, no dia 08 de julho de 1920 e portava nacionalidade chilena.

Bailarina, atriz e cantora, Carmen esteve no Brasil por diversas vezes. Segundo o prontuário individual 9554 criado pela DOPS/PE a seu respeito, a primeira vez teria sido em 1938. O serviço consular de registro de estrangeiros identifica ao menos três visitas: em 1942, 1943 e, por último, em 1945, período em que obteve visto de permanência definitiva no país. Tais registros consulares indicam que, ao menos em 1942, Carmen foi declarada como portadora de nacionalidade chilena, tendo sido acrescido ao seu nome registrado nessa ficha mais um sobrenome: Muñoz. Embora Carmen fosse negra, o prontuário da DOPS/PE a registra como branca.

Em sua segunda temporada no país, em 1943, trabalhou durante um tempo no Rio de Janeiro, tendo o contrato de locação de serviços legalizado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). No prontuário da DOPS/PE, é possível saber que Carmen trabalhou no Casino Atlântico do Rio de Janeiro como artista cantora.

Entre fevereiro e abril de 1944, Carmen esteve por duas vezes no Recife, fazendo escala em vôos entre o Rio de Janeiro e Natal, onde cumpriu temporada artística no Grande Hotel, sob a direção da firma Alfredo Bianchi.

Carmen fez uma visita ao Recife em meados de 1949, ocasião em que se apresentou no auditório da Rádio Jornal do Commercio, provocando comentários machistas e racistas marcados por preconceito na imprensa local, a exemplo de nota publicada pela coluna especializada em programação radiofônica do “Diario de Pernambuco”. No dia 03 de agosto, o cronista que se assinava “J.” destacou o sucesso danado de Carmen no auditório da L-6, na Marquês do Recife, no auditório da P.R.L. 6, detendo-se mais na sua beleza do que na qualidade de suas interpretações. Diz o cronista: Quando não seja pela voz, ao menos pela plástica de ébano em remeleixos e revolteios pr’a lá de provocantes. Com pouquíssimas roupas, sumaríssimas mesmo, Carmen delicia a vista e o sentido dos frequentadores do auditório da L-6, fazendo muita gente pensar nos ‘clarões de um sol que já vai longe’ e nas ‘sombras de uma noite que vem perto’. Citando Teófilo de Barros Filho, da direção da emissora e amigo pessoal do cronista, este chamava-a de ‘colored’ norueguesa […] que tem o ‘pedigree’ da mulata, e afirmava que Carmen causaria um terremoto na cidade, tendo seu espetáculo sido censurado para menores de 18 anos por um juiz local.

A abordagem se repete alguns dias depois do colunista “J.” ter assistido pessoalmente a uma apresentação de Carmen no auditório da rádio. Segundo seu relato, o show provocou duas reações da platéia, majoritariamente, masculina. Ao apresentar-se inicialmente vestida em trajes longos, Carmen causou desgosto no público, que só voltou a aplaudir com entusiasmo quando a mesma voltou vestida à la Eva. Em tom de ironia, o cronista fala que Carmen teria alcançado bastante ‘prestígio’, para concluir afirmando que o diabo é que tal assunto já caiu em lugar comum, entrando para a rotina das coisas naturais; e nem mesmo sua voz ajuda. Somente o ‘prestígio’.

Em seguida à temporada da Rádio Jornal, Carmen participou da reabertura da Boite Leite, sendo anunciada como a Vênus de Bronze e como highlight. Na programação, se apresentaram também o grupo Azes do Ritmo, a sambista Lilian Cardoso e o dançarino exótico Comblain. A festa, ocorrida no dia 20 de agosto, prestou homenagem ao centenário de Joaquim Nabuco.

Em dezembro de 1945, a revista “Carioca” publicou uma matéria com a cantora e bailarina norueguesa, cuja chamada destacava: Das ruas nevadas de Oslo para um salão de música em Viena – Ela tomou chimarrão no Uruguai, viu os andes no Chile e dançou em Copenhague: uma história vivida em toda parte: nas regiões quentes da África, nas pistas de dança de um club portenho, nas calçadas da Quinta Avenida! – Ela percorreu meio mundo e hoje olha um barco perdido na imensidão do Atlântico. Em depoimento à revista, Carmen afirmava ter nascido em Oslo, filha de pais famosos, artistas completos, cômicos, dramáticos, acrobatas. Dá um panorama sobre sua trajetória artística desde o início em Copenhague, passando por outros países da Europa e América do Sul até viajar à África para entrar em contato mais profundo com as danças africanas, vivendo na Libéria, onde entrou em contato “com aquela gente das selvas e me tornei senhora de todas as particularidades de suas festas selvagens”. De certa feita, em Nova York, ao se deparar com uma foto da Baía de Guanabara, decidiu então seguir para o Rio de Janeiro, onde fixou residência.

Além dos palcos, Carmem atuou em pelo menos três produções cinematográficas: “Melodias da América”, (ARG, 1941), “Caídos do céu” (BRA, 1946), e “Mundo estranho” (ALE, 1951).

 

 

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